Review | ELEINE “We Shall Remain Tour” | RCA Club, Lisboa | 26.04.2025

Esta semana tem sido daquelas de estoirar. Como técnico de som e luz, tenho estado a 666km à hora, entre montagens e espetáculos, e este fim de semana estou a assegurar o som e luz do Festival Contacto, da Imaginauta, no Auditório e Biblioteca de Marvila. Para quem não conhece, é um festival muito ligado à literatura, à ficção científica e ao fantástico — e recomendo vivamente que passem por lá. Vale mesmo a pena descobrir!

Posto isto, como devem imaginar, entre fechar o primeiro dia do festival, jantar a correr e meter-me a caminho do RCA, acabei por perder a primeira banda da noite, os SINHERESY. Conto convosco nos comentários para me contarem como foi essa atuação!

Cheguei a tempo de apanhar KLOGR. Já os tinha visto anteriormente a abrir para os Evergrey, e continuo meio perplexo com estas bandas que pagam para andar na estrada com outras “maiores” — e ainda por cima com tão pouca ligação musical entre elas. No caso dos KLOGR (que eles próprios pronunciam “KAY LOG ARE”, imagine-se…), estamos a falar de um rock/metal muito americano no estilo, apesar de serem maioritariamente italianos. Dão um concerto honesto, daqueles que até sabia bem ver num bar da Route 66, copo na mão, sem grandes expectativas. Não são maus, de todo — mas não têm uma música que se destaque. Ao fim de três ou quatro faixas, se estivermos apenas focados no concerto, sem a cervejinha e a conversa, torna-se monótono. É banda de estrada, como se costuma dizer, que não arrisca e também não surpreende.

E por fim, ELEINE, a banda da noite.

Já os tinha visto antes, a abrir para os PAIN, onde até cumpriram a função de aquecer o público. Desde então, ganharam uma pequena base de fãs cá em Lisboa e conseguiram encher mais de meia casa no RCA — o que, diga-se, já dá uma boa moldura humana ao espaço que continua a ser, para mim, a melhor sala de concertos underground da cidade.

Agora, vamos ser honestos: para uma banda que se apresenta como “symphonic metal”, aparecerem com apenas quatro elementos em palco e tudo o resto em “hacking tracks” é, no mínimo, pobre. Banda symphonic de verdade exige peso, presença e textura — algo que só se consegue com secções instrumentais reais, especialmente teclados e baixo ao vivo. E isso, eles não têm. Sobram dois guitarristas competentes, uma vocalista com um visual exótico que claramente é parte do “chamariz”, e um baterista de recurso que foi integrado à pressa depois da expulsão do anterior (juntamente com o baixista) por “comportamentos inapropriados”. Resultado? Um som algo vazio, que deixa demasiado trabalho para as backing tracks preencherem.

A vocalista, apesar do carisma em palco e da tentativa constante de criar ligação com o público (com direito a muitos beijos ao vento e discursos ensaiados sobre como o público é a alma dos concertos), não impressiona particularmente em termos vocais. Cumpre, mas não deslumbra — especialmente para um género onde o poder vocal costuma ser uma arma forte.

Em termos de alinhamento, a banda expandiu obviamente o setlist relativamente ao que apresentou em 2023 com PAIN. Agora tocaram mais faixas, entre as quais:

  • Enemies
  • Never Forget
  • Ava Of Death
  • Memoriam
  • As I Breathe
  • Blood In Their Eyes
  • War Das Alles
  • Where Your Rotting Corpse Lie (W.Y.R.C.L.)
  • Die From Within
  • Dancing In Hell
  • We Are Legion
  • Sanity
  • Vemod
  • All Shall Burn
  • We Shall Remain

Nota-se o esforço em oferecer um espetáculo mais completo — e é verdade que, estruturalmente, o concerto teve os seus três atos bem definidos. Mas a sensação que fica é que, sem a imagem da vocalista e os solos de guitarra a puxar, a banda pouco mais tem para dar. E para uma banda de symphonic metal, isso não chega.

Resumindo: o concerto entreteve, cumpriu minimamente a sua missão… mas para se afirmarem como algo mais no meio de tantas boas bandas do género, falta-lhes muito. Mais alma, mais instrumentos ao vivo, mais genuinidade — e menos reliance em fórmulas gastas e presenças cénicas.

A ver vamos se a banda cresce… ou se continua a viver apenas da aparência.

Bruno da Costa aka Likes de um Metaleiro


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