
Maio está ai. E com ele, milhares de passos ecoam em direcção a Fátima, vindos de todos os cantos do país.
Este texto não é uma reportagem. É um testemunho. Uma partilha.
Porque há momentos na vida em que sentimos necessidade de nos desligarmos do que nos rodeia para nos religarmos com o que está dentro de Nós.
No verão passado, em pleno Agosto, embarquei numa peregrinação que mudou algo dentro de mim. Agora, com o aproximar da habitual grande peregrinação, sinto que é uma boa altura, para partilhar esta viagem com todos os amigos, crentes e não crentes, que como eu, acreditam, que o verdadeiro caminho “faz-se caminhando”… mas já agora que seja ao ritmo da “música pesada. 🤘🤘
Sou o Bruno da Costa, um “metaleiro” de Lisboa, devoto ao som e à Vida, que acredita tanto no peso dos riffs como no silêncio da alma. Alfacinha de gema, habituado ao ritmo frenético de Lisboa, decidi enfrentar um dos meus maiores desafios: percorrer a pé 160 km em pleno verão, dos arredores da capital até ao Santuário de Fátima. Um desafio não só físico, mas principalmente espiritual e emocional.
Para mim percorrer “O Caminho de Fátima”, “o de Santiago de Compostela” e tantos outros, são mais do que um ato de fé. São um percurso de reencontro com o “Inner self”, uma busca por respostas às perguntas que o cotidiano nos faz esquecer…
Esta é a minha caminhada até Fátima. E esta é a banda sonora do meu caminho:
1a Etapa – Miraflores ao Parque das Nações (19 km)
Faixa: “Ghost Love Score” – Nightwish
Iniciei a caminhada na “Golden Hour”, quando o sol se despedia e a cidade parecia ser abençoada por esta luz dourada. A vista do Tejo, da Ponte 25 de Abril e dos monumentos ribeirinhos trouxe-me uma paz inesperada, foi como se por breves instantes, a Cidade e o Universo tivessem se unido, e suspendido o CAOS para que pudesse partir em Paz.
O Rio Tejo acompanhou-me sempre com serenidade. Esta primeira etapa foi como uma introdução sinfónica – épica, melancólica e cheia de presságios. A música da Alma começava aos poucos a tocar, cada vez mais alto…
2a Etapa – Parque das Nações a Vila Franca de Xira (29 km)
Faixa: “FireSeason” – Moonspell
O sol rasgou o céu e testou-me como nunca. A insolação foi real, dura. Cada passo era uma afirmação de resistência. Mas foi aqui que percebi que, para renascer, o velho tem mesmo de arder. A fé também deve de ser isso: recusar desistir. Resistir à dor. E prosseguir! Porque a verdadeira Luta é em continuar!
3a Etapa – Vila Franca de Xira à Azambuja (20 km)
Faixa: “Death, Come Near Me” – Draconian
A dor física tornou-se uma constante. Mas algo mais profundo começou a emergir. Cada quilómetro afastava-me do ruído do mundo e aproximava-me de mim. De um silêncio que não era vazio, mas plenitude. Como quem passa um portal e descobre que, do outro lado da dor, há revelação.
4a Etapa – Azambuja a Santarém (33 km)
Faixa: “Sorrow of Sophia” – Draconian
O encontro com “Ti Manel” em Porto de Muge foi um dos momentos mais marcantes. Sob a sombra da Ponte Rainha Dona Amélia, ouvi as suas histórias de fé inabalável.
Senti ali que o universo, por vezes, até nos envia anjos com sotaque ribatejano, e assim Santarém surgiu no horizonte como um oásis de esperança.
5a Etapa – Santarém a Alcanena (33 km)
Faixa: “What I Have Become” – Swallow the Sun
A noite trouxe reflexão. Desviei-me do trilho tradicional, mas nunca da essência do caminho. A solidão bateu forte, mas não de uma forma negativa.
Foi uma espécie de dissolução do ego. Em Alcanena, senti-me invisível e, paradoxalmente, profundamente conectado.
6a Etapa – Alcanena a Fátima (22 km)
Faixa: “The adorer” – Thragedium
A recta final foi uma batalha de corpo contra mente. Mas cheguei. Às 3 da tarde, debaixo de um sol abrasador, entrei em Fátima como quem entra num novo ciclo. Não acendi velas! Mas rezei para dentro de mim. Com o coração, com a alma, e com o peso da jornada gravado nos pés. Foi o fim de um caminho. E inevitavelmente, o início de um outro…
Epílogo: Faixa: “Souvenirs D’Un Autre Monde” – ALCEST
O regresso, pela janela do autocarro, revelou um novo mapa. As estradas que antes eram paisagem, tornaram-se memórias. Cada curva tinha agora um riff. Cada árvore, um grito interior. Cada aldeia, uma canção…
Sei agora que o Caminho de Fátima não começa nem acaba no Santuário. É um caminho eterno, interior, infinito… Um caminho onde se mistura o suor da estrada com a energia do palco da Vida. E onde o Heavy Metal, longe de ser ruído, se torna hino de transformação.
Assim seja. Hail & Amen! 🤘🤘🤘
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