Likes de um Metaleiro – 3 dias de festival (12, 13, 14 de Junho)

📍 Zamora, Espanha

⚠️ Nota prévia importante: Esta reportagem não pretende ser exaustiva. São destaques pessoais de três dias intensos no Z! Live, na maioria, pela positiva… mas também há espaço para apontar o dedo quando é preciso. Aqui não há paninhos quentes: isto é o ‘Likes de um Metaleiro’ 🤘💪🙏🤘

Primeiras impressões e abertura do recinto 

Chegámos mesmo à abertura das portas, prontos para explorar as bancas e o recinto com calma – e ver logo onde é que o nosso parco orçamento português se ia esticar até domingo de madrugada… É inevitável fazer comparações: os ordenados espanhóis ainda são consideravelmente superiores aos nossos, mas o que salta à vista é como festivais como o Z! Live estão, em termos de organização, infraestruturas e programação, muito à frente da maioria dos festivais portugueses. 

E é precisamente por isso que nos continua a interessar tanto vir aqui! 

Não só pela música, mas também pela forma como ela é tratada.

🎸 Primeiro Dia: Quinta-feira de Arranque Poderoso!

After Lapse 🇪🇸 – Abertura com energia

Os espanhóis After Lapse abriram as hostes com uma mistura bem animada de influências dentro do Metal moderno – há traços de Power, toques de Prog e até um piscar de olho ao Metalcore mais melódico. Nota-se que ainda estão a construir a sua identidade, mas são divertidos e têm boas ideias. Claro que, como é habitual na primeira banda do dia, houve alguns problemas técnicos – em parte nervosismo, em parte a inevitável adaptação ao PA do recinto por parte do técnico de som. 

Mas no geral, foi uma boa forma de aquecer motores e entreter o pessoal.

VOLA🇩🇰🇸🇪 – Os A-ha do Metal?

Anos a passar à frente as recomendações do YouTube e Spotify… e afinal os VOLA até me conquistaram. Sim, aquela eletrónica estranha e as vozes robóticas afastaram-me no início, mas como acontece com muito no pop… primeiro estranha-se, depois entranha-se.

A Raquel, minha companheira de Viagens, de Vida e Heavy Metal , há praticamente 25 anos, fez um comentário certeiro sobre o baterista: “parece um desenho animado!” – e não é que parecia mesmo? Magríssimo, de braços longos como o Dhalsim do Street Fighter, com movimentos graciosos que contrastavam com a força da batida. Um músico exímio, tal como o resto da banda, que merece ser visto ao vivo. Aliás, vão estar no Comendatio Music Festno final do mês – não percam.

Nile🇺🇸 – Brutalidade sem desvios

Nunca fui grande fã de Nile, embora reconheça algumas malhas interessantes, sobretudo nos dois primeiros álbuns, onde ainda se notava uma certa frescura no som. Mas a partir daí… é um pouco mais do mesmo. Brutal, técnico, veloz – sim. Mas também monótono, sem grande margem de evolução. Ainda assim, o público reagiu com força, e foi com Nile que se formaram os primeiros grandes moshes do festival. Respeito-lhes a persistência: já contam com mais de 30 anos de carreira e continuam fiéis ao seu death metal egípcio de precisão cirúrgica.

Exodus🇺🇸 – Velhos, mas não cansados

Confesso que o Thrash Old School nunca foi a minha cena, mas tenho de tirar o chapéu aos Exodus. Com quase 40 anos de estrada, trouxeram um muro de som digno de uma muralha medieval – cabeças Marshall empilhadas como um aviso visual de que a seguir não vinha nenhum baile de Santo António.

O concerto teve momentos de pura loucura, com temas rasgadíssimos que não davam descanso nem ao baterista nem à plateia. Mesmo com a idade a avançar, mantêm uma energia em palco que envergonha muito novato por aí. Foram, sem dúvida, a banda da tarde/noite.

Meshuggah🇸🇪 – Técnica, luzes… e pouco mais

Se o concerto fosse avaliado só pelo espetáculo visual, os Meshuggah levavam o ouro sem discussão. A produção de luz – com robslasers e um jogo de sombras e pulsos – foi absolutamente incrível. Infelizmente, o conteúdo musical continua a não me convencer. Sei que são mestres do djent, com uma abordagem matemática e desafiadora ao metal extremo, mas ao vivo… parece tudo uma massa sonora que não mexe comigo. Respeito? Sim. Entusiasmo? Nenhum.

Dream Theater🇺🇸 – Virtuosismo a mais?

Encerraram a noite os gigantes do metal progressivo Dream Theater. E aqui o problema nem é a qualidade – são todos mestres nos seus instrumentos, com destaque claro para John Petrucci e a voz poderosa de James LaBrie. O problema… é mesmo o exagero. As músicas de 8 a 13 minutos, com mudanças constantes de andamento e secções instrumentais que se arrastam, acabaram por tornar o concerto cansativo. Sim, são génios – mas por vezes, menos seria mais.

🏰 Segundo Dia: Metal… e História! 🇪🇸 🛡️🇵🇹 

Sexta-feira 13 , foi um dia especial. Quem acompanha o canal e agora também o blog, sabe que gosto de explorar as cidades que visito – sou um verdadeiro Metal Tourist. E em Zamora, troquei por um bocado os riffs por pedras históricas.

A cobertura do festival ficou mais leve porque fui explorar Zamora — esta cidade linda onde D. Afonso Henriques se auto-armou Cavaleiro 🛡️⚔️ e onde foi assinado o Tratado de Zamora, um dos tratados diplomáticos mais antigos da Europa. Foi aqui que Castela e Leão disseram: “ok, vocês são mesmo independentes”, e Portugal começou a ser Portugal. 🇵🇹🔥💪🙏

Atrás de mim, na ponte de pedra, senti o peso da história — e da mochila, que não larguei nem em modo turista. Na Praça Mayor, admirei a imponência das igrejas medievais, visitei a estátua do Viriato (símbolo da resistência e da bravura lusitana) e ainda subi ao Castelo e à Catedral de Zamora, com vista para a cidade e para o rio Douro, que por aqui ainda é espanhol… mas não por muito!

Angelus Apátrida e Noctem 🇪🇸

Chegámos ao recinto com os Angelus Apátrida já a tocar. Thrash espanhol na veia, com bastante energia e uma base sólida de fãs. A seguir, Noctem trouxeram um som mais escuro, entre o Blackened Death Metal e alguma teatralidade visual. Algumas ideias interessantes, mas nada que me tenha prendido demasiado.

Alestorm 🏴󠁧󠁢󠁳󠁣󠁴󠁿– Pirataria e diversão

Alestorm é sinónimo de festa. O chamado pirate metal 🏴‍☠️não é, de todo, o meu estilo – mas é impossível ficar indiferente ao ambiente que criam. Riffs simples, letras de taverna e um humor constante que funciona às mil maravilhas ao vivo. Como já partilhei nas redes, os vídeos falam por si: entretenimento puro!

Accept 🇩🇪 – Os senhores da noite

Os alemães Accept foram os grandes vencedores da noite. Clássicos atrás de clássicos, com um som limpo, poderoso e uma entrega irrepreensível. O heavy metal tradicional tem nestes veteranos uma das suas maiores bandeiras. Mesmo com décadas em cima, mostram como se faz, com riffs cortantes, refrões que se colam à pele e um público completamente rendido.

Saurom 🇪🇸 – Fantasia ibérica em metal

Fecharam o dia os Saurom, uma banda com um conceito curioso: contar histórias e lendas em heavy metal cantado em espanhol, com traços de folk e elementos teatrais. Infelizmente, a voz do vocalista não me convenceu – demasiado afetada e, por vezes, fora do registo que o instrumental pedia. Ainda assim, vale pela proposta diferenciadora, mais que não seja por também eu ser um contador de histórias. 

No final do dia, o relógio marcava 16 km de caminhada. Entre monumentos, bancas, palcos e poeira, foi uma Sexta-Feira 13 em cheio – repleto de história, metal e suor.

🌑 Terceiro Dia: Nem tudo o que brilha…

Comecei o dia a tempo da primeira banda – infelizmente.

🪞 Open Sight 🇬🇧❓– Tudo errado

Visual à Leprous (fatinho incluído), vídeos pomposos em palco que roubam mais atenção do que acrescentam, e uma presença… inexistente. Música sem garra, atitude zero, e um inglês que me fez pensar que eram espanhóis.

É duro dizer, mas estas bandas precisam de um choque de realidade. Se o som não resulta, se a presença é tímida, e se os vídeos fazem mais do que a própria banda… então talvez estejam na arte errada… É que em Light Design aprendemos , que os vídeos em backdrop, e a luz, nunca podem se sobrepor nem roubar o show à banda… 

Há tantas formas de viver do meio: produção, agenciamento, logística… mas insistir em tournées falhadas até bater na falência? Já vimos este filme… Várias vezes.

 Gotthard 🇨🇭– Rock FM com dignidade

Concerto competente, com clássicos e malhas bem recebidas. Nada de novo, mas funcionou. Setlist sólido com destaque para “Heaven” e “Lift U Up”.

🤘 Lita Ford🇺🇸 – Uma lenda viva

Com 66 anos, Lita continua a dar cartas… e charme.😻 Meio século de rock, uma voz que ainda impõe, e presença em palco cheia de carisma. Set recheado de hinos, com direito a covers bem metidos e muita atitude.

🔥 Sepultura🇧🇷 – O espírito continua

Banda da noite. E do festival!

Percebo quem diga que já não são Sepultura, mas sou dos que defende a perseverança. Enquanto houver alguém da formação original (Paulo Jr.), até o Andreas Kisser que entrou em 87… o espírito e o nome Vive. O concerto foi um desfile de malhas incontornáveis, energia brutal e um público rendido. Que mais se pode pedir?

🧛‍♂️ Dark Funeral🇸🇪 – A missa negra em palco

Concerto escuro, poderoso, direto. Cenário simples, visual eficaz: backdrop com símbolo, Nosferatus de olhos brilhantes , sangue a escorrer no ecrã. A tal lição que referi no início do terceiro dia? Estes senhores sabem-na de cor!!

🎤 Conclusão: 3 dias, 3 nomes

Se tivesse de escolher as três melhores bandas do festival, ia assim:

1. Sepultura – porque continuam a dar tudo.

2. Exodus – porque mostraram como se envelhece no metal.

3. VOLA – porque me apanharam completamente de surpresa.

Quase 666 km de estrada até Zamora – mas como sempre, valeu cada metro. Pelas bandas, pelos concertos… mas sobretudo pelas amizades, pelas conversas e por aquela comunhão que só quem vive o metal sabe explicar.


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *