
A ideia inicial era simples: um salto até Paços de Ferreira para mais uma celebração com a Alcateia Moonspelliana e os inter galácticos Apotheus .
Mas como costuma acontecer quando dependemos de transportes em Portugal… tudo se complica.
A amiga ia levar o carro do pai, teve o carro a pifar, muito provavelmente o radiador que não aguentou com o calor. Resultado?
Perdi também a oportunidade de apanhar o último autocarro que me levaria ao Porto com tempo suficiente para ainda chegar a Paços. E é nestas alturas que percebemos como, por vezes, é mais fácil e barato ir a Londres ou Madrid ver um concerto do que circular dentro do nosso próprio país.
A falta de ligações ferroviárias regulares, a escassez de transportes a horas decentes, e os preços absurdos de última hora continuam a ser um grande obstáculo para quem quer consumir cultura… especialmente fora das grandes cidades.
Mas, como não sou de desistir facilmente, rapidamente reajustei os planos: destino, Carcavelos. E lá fui eu até ao CriArte, espaço cultural gerido pela Cascais Jovem, com programação regular e boas condições técnicas. A sala, moderna e bem equipada, peca apenas por uma escolha algo infeliz: cadeiras fixas ao chão. Num espaço com potencial para receber concertos mais intensos e com público mais participativo, essa limitação retira dinâmica e energia. Já que a opção por uma bancada telescópica parece estar fora do orçamento, o ideal seria substituí-las por cerca de 100 cadeiras plásticas amovíveis, mais versatilidade, mais liberdade para o público, e uma adaptação mais fácil a cada tipo de evento. Mas no que toca a som, luz e estrutura em palco nota máxima.
Blame Zeus – peso, alma e maturidade
Os Blame Zeus já levam uns bons anos de estrada e, apesar das naturais mudanças na formação ao longo do tempo, mantêm um núcleo criativo sólido e reconhecível: Sandra Oliveira na voz (intensa e carismática), o guitarrista Tiago Lascasas e o baterista Ricardo Silveira continuam a ser a espinha dorsal de um som maduro, pesado e emocional.
O set desta noite foi bem equilibrado, puxando temas marcantes como “Stitch”, “The Moth” e “Falling of the Gods” (a minha favorita da noite), com uma passagem a meio para o mais atmosférico “Asleep in the Stars”. A escolha de alinhamento funcionou bem, equilibrando agressividade com introspecção — e isso fez com que o concerto tivesse sempre algo a prender a atenção. A banda mostrou-se em excelente forma, com ligações sólidas entre os músicos e um à-vontade em palco que só se ganha com a experiência, suor e o pó da estrada.
Glasya – sinfonia em alta rotação
Logo a seguir, foi a vez dos Glasya, a banda portuguesa de symphonic metal que tem vindo a cimentar o seu nome cá dentro e além-fronteiras. Se dúvidas houvesse, dissiparam-se todas nesta noite: a banda está num dos seus melhores momentos. Mesmo com um baterista novo em palco, o grupo mostrou coesão, garra e profissionalismo. O concerto fluiu sem falhas visíveis, com um alinhamento dinâmico e teatral — tal como se espera de uma banda com esta sonoridade épica.
Temas como “The Sound of 10.000 Feet Marching”, “Battle for Trust” e “Heaven’s Demise” ecoaram com força na sala, com a componente visual e luminotécnica a ajudar a criar uma atmosfera imersiva.
A setlist, com as marcações de luz primária e secundária, revelou o cuidado técnico com que a banda aborda os seus espetáculos — algo que valorizo particularmente, tendo em conta o meu lado técnico.
Foi uma atuação poderosa, que não só cumpriu como superou expectativas. Saí de lá de alma cheia e com a sensação de missão cumprida. Se não deu para rumar ao norte, ao menos Cascais recebeu um espetáculo de grande nível e eu não perdi mais uma noite que ficará certamente na memória de quem lá esteve.
Next Z! Live – Zamora!! Metal On!!
Deixe um comentário